“Centrando-se sobre o Portugal situado entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, esta tese procura entender o anarquismo como uma cultura política vocacionada para orientar e situar no mundo o indivíduo e organizar colectivamente a sua acção, de tal modo que podemos falar do anarquismo como uma arte de governar, contribuindo assim para uma história das relações de poder e de como estas tomam forma tanto em culturas autoritárias como em culturas de resistência antiautoritárias. Nos oito capítulos, pretendemos, em primeiro lugar, dar conta dos processos de subjectivação que operavam directamente sobre e a partir do indivíduo, com o propósito de construir tanto um sujeito anarquista como sustentar um projecto de transformação social e política e estruturar a sociedade libertária. Em segundo lugar, pretendemos explorar a articulação desses processos com um conjunto de saberes orientados para o conhecimento e governo da população que então constituíam um certo paradigma epistemológico, científico, administrativo e político na sociedade portuguesa e de que os anarquistas faziam uso. Para estes efeitos, na primeira parte da tese concentramo-nos especialmente nos meios e parâmetros da formação intelectual e moral dos anarquistas, fundados na cultura, na educação, na razão e na ciência, e na segunda parte focamo-nos sobre as ideias e os cuidados sobre o corpo e a biologia, sobressaindo uma ideia de natureza que atravessava praticamente a totalidade das mundividências anarquistas. O encontro entre os processos libertários de subjectivação e esses saberes permite-nos situar o anarquismo num movimento de racionalização da sociedade, que era partilhado com muitas das culturas políticas coevas, e identificar os fundamentos de uma “arte de governar” anarquista.”

Fazer download da tese aqui.